Pecadores (título original: Sinners) é uma obra cinematográfica de 2025 que marca o retorno de Ryan Coogler à direção após seus sucessos em Pantera Negra e Creed.
Estrelado por Michael B. Jordan em um papel duplo, o filme se destaca por uma abordagem única ao combinar elementos de terror e musicalidade, ambientado no sul dos Estados Unidos durante a década de 1930.
Sinopse: Ambientado em 1932, no Delta do Mississippi, Pecadores acompanha os irmãos gêmeos Smoke e Stack (ambos interpretados por B.Jordan) veteranos da Primeira Guerra Mundial, que retornam à sua cidade natal após anos trabalhando para a máfia de Chicago. Com dinheiro obtido de forma ilícita, eles compram uma serraria de um fazendeiro racista com o objetivo de transformá-la em um juke joint — um bar com música ao vivo — voltado para a comunidade negra local. O primo deles, Sammie, um aspirante a guitarrista, junta-se ao projeto, apesar da oposição de seu pai, o pastor Jedediah, que acredita que o blues possui ligações sobrenaturais malignas.
A trama toma um rumo sombrio quando um vampiro irlandês chamado Remmick transforma membros do Ku Klux Klan em criaturas da noite, desencadeando uma série de eventos que ameaçam não apenas os protagonistas, mas toda a comunidade. A música de Sammie, carregada de uma energia transcendental, acaba atraindo a atenção dessas forças sobrenaturais, levando a confrontos intensos e revelações profundas sobre fé, identidade e resistência cultural.
Ryan Coogler entrega um terror de construção lenta, com forte carga atmosférica e ancorado em uma estética profundamente sulista. Mais do que sustos fáceis, Pecadores opta por uma tensão crescente, que se manifesta tanto nos silêncios quanto nos sussurros da natureza em ruínas. Além disso, a trama se apoia em uma dualidade entre o passado e presente, real e sobrenatural, redenção e condenação. O retorno à cidade natal funciona como rito de passagem, e Coogler constrói esse retorno com maestria, dosando os elementos fantásticos com o peso psicológico dos personagens.
- Atuações impecáveis em um elenco escolhido à dedo
Michael B. Jordan entrega uma atuação notável ao dar vida aos gêmeos protagonistas, imprimindo com precisão cirúrgica as distinções entre Smoke e Stack. Enquanto Smoke surge como o irmão mais contido, de espírito pragmático e mente voltada aos negócios, Stack encarna o oposto: impulsivo, caótico, quase anárquico em sua desatenção às convenções. Desde os primeiros minutos em cena, Jordan transita com fluidez entre essas duas subjetividades, revelando com sutileza a fragilidade emocional que permeia ambos, mesmo quando mascarada por posturas antagônicas. A complexidade desse duplo papel não apenas reforça sua versatilidade como intérprete, mas o consolida em um dos momentos mais relevantes de sua trajetória artística.
As figuras femininas que orbitam os protagonistas são mais do que meros coadjuvantes: são catalisadoras de suas jornadas interiores. Hailee Steinfeld, como Mary, oferece uma composição delicada e cheia de subtextos — sua presença é carregada de uma sensualidade discreta e uma urgência emocional que gravitam em torno de Stack com intensidade palpável. Já Wunmi Mosaku, como Annie, contrapõe esse desejo inquieto com uma ternura sólida e madura, encarnando a mulher que Smoke, preso às suas próprias contradições, foi incapaz de valorizar.
Embora os irmãos inicialmente possam sugerir uma tendência à vilania, a mise-en-scène e a construção narrativa logo deslocam essa leitura superficial. O filme se empenha em expor suas motivações — muitas vezes cruas, mas profundamente humanas — até que antagonistas verdadeiramente sombrios emergem, reposicionando o eixo moral da história e relegando os dilemas dos protagonistas a uma esfera quase banal frente ao horror que se impõe. Trata-se, portanto, de uma obra que tensiona habilmente os limites entre o bem e o mal, sem jamais subestimar a inteligência do espectador.
- Estética e atmosfera: um Sul gótico e sufocante
A fotografia de Autumn Durald Arkapaw mergulha o espectador em um universo de sombras, pântanos e interiores decadentes. Há uma cadência visual que lembra os clássicos do "gótico sulista", mas com toques modernos e ritmo cinematográfico refinado. A trilha de Ludwig Göransson, com toques de blues distorcido e elementos tribais, potencializa a imersão. A ambientação dos anos 1930 é meticulosa, desde os figurinos de Ruth E. Carter até a direção de arte, que transforma cada cenário em uma extensão do conflito interno dos personagens. Tudo ecoa memória, pecado e silêncio.
- Temas: pecado, herança e identidade
Pecadores não é apenas um filme de terror. É uma meditação sobre os fantasmas herdados: a violência estrutural, o racismo, o trauma de guerra, a culpa coletiva. A força sobrenatural que persegue os irmãos funciona como uma metáfora viva dos pecados não confessados de uma nação — especialmente de uma América sulista em ebulição nos anos 1930.
Coogler propõe uma reflexão sobre a possibilidade (ou não) de redenção. O passado pode ser enterrado, mas nunca esquecido. E, no universo de Pecadores, ele sempre encontra um jeito de ressurgir. Com uma narrativa envolvente, atuações arrebatadoras e uma direção precisa, Pecadores é uma obra que transcende o gênero. Ryan Coogler entrega mais que um filme de terror: cria uma fábula sombria sobre arrependimento, pertencimento e os laços invisíveis que nos conectam ao que foi e ao que ainda somos.
⭐️⭐️⭐️⭐️☆ (4,5/5)
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Ficha técnica de Pecadores (2025)
Título original: Sinners
Direção: Ryan Coogler
Elenco principal: Michael B. Jordan, Hailee Steinfeld, Delroy Lindo
Gêneros: Terror, Aventura, Fantasia
Duração: 2h17min
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Lançamento: 17 de abril de 2025 (Brasil)
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